Descobertas sobre o leite materno - Hormonas presentes no leite

Terminou em Berlim o XI Simpósio Internacional de Aleitamento Materno promovido pela Medela

A grelina e a leptina, duas hormonas presentes no leite materno, são fundamentais para combater o excesso de peso na idade adulta

·         Ambas as hormonas são responsáveis, desde o primeiro momento, por regular a fome e a saciedade, além de contribuir para o crescimento do bebé

·         Um estudo da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, demostrou os benefícios do leite materno no desenvolvimento cerebral. Nas crianças alimentadas com leite materno havia um maior crescimento das áreas relacionadas com a fala, as emoções e a cognição.

·         O XII Simpósio Internacional de Aleitamento Materno realiza-se em Florença (Itália) nos dias 7 e 8 de abril de 2017

Lisboa, 18 de abril de 2016. - A XI edição do Simpósio Internacional de Aleitamento Materno que a Medela promove anualmente terminou em Berlim (Alemanha) depois de duas jornadas às quais vieram cerca de 400 profissionais de todo o mundo. O encontro esteve centrado em três eixos principais: os componentes únicos e diferenciais do leite materno, a sua importância nos bebés prematuros e os resultados recentes de estudos de investigação básica realizados sobre o leite materno. A décima segunda edição do simpósio terá lugar em Florença (Itália), nos dias 7 e 8 de abril de 2017.

A composição única do leite materno inaugurou o simpósio para aprofundar aspetos tão relevantes como: o papel da grelina e da leptina para prevenir a obesidade, o papel dos oligossacáridos na proteção de infeções e como o leite materno afeta o crescimento cerebral.

A propósito do papel da grelina e da leptina, a professora Donna Geddes, da Universidade da Austrália Ocidental (Perth), apresentou os últimos resultados de investigações relacionadas com a composição do leite materno que avaliam a relação entre a alimentação com leite materno e o menor aparecimento de enfermidades crónicas não contagiosas na idade adulta, como por exemplo, a obesidade. Segundo afirmou Geddes, as crianças que foram amamentadas são menos propensas a sofrer de excesso de peso na idade adulta devido, entre outros fatores, à grelina e à leptina, hormonas que participam desde o início da vida da criança na regulação da fome e da saciedade.

Por seu lado, o professor Lars Bode, da Universidade da Califórnia (San Diego, EE.UU.), mostrou a importância de conhecer a quantidade e a complexidade dos oligossacáridos que o leite materno contem. Estes açúcares têm um importante papel no crescimento saudável do bebé já que, por exemplo, o protegem contra infeções provocadas por bactérias, fungos ou parasitas que se colam às mucosas intercetando os agentes patógenos.

O cérebro também beneficia com o leite materno. Esta afirmação ficou demostrada na exposição do médico Sean Deoni, da Universidade de Brown (Providence, EE.UU.). Na conferência, Deoni apresentou as conclusões de um estudo realizado em 133 bebés sãos nascidos no final do tempo e crianças entre 10 meses e 4 anos, divididos em grupos alimentados exclusivamente com leite materno, com leite materno e leite de fórmula, e um último grupo que apenas ingeriu leite de fórmula. A este conjunto de crianças realizou-se uma tomografia por ressonância magnética silenciosa e analisou-se o crescimento do cérebro. Nas crianças alimentadas com leite materno havia um maior crescimento das áreas do cérebro responsáveis pela fala, pelas emoções e pela cognição.

Novas estratégias terapêuticas para prematuros: a necessária implicação da família

Ao longo do simpósio também se dedicou uma área específica a novas estratégias terapêuticas na neonatologia. Matthias Keller, professor e médico do hospital infantil Kinderklinik Dritter Orden de Passau (Alemanha), explicou o programa de tratamento clínico NeoPAss®, onde todo o ambiente envolvente ao bebé tem um papel fundamental, sobretudo os pais. Segundo os resultados fornecidos pelo NeoPAss®, entre os bebés prematuros com menos de 28 semanas, o número de bebés amamentados no momento da alta hospitalar aumentou de 42% para 75% e nos bebés prematuros, com uma idade gestacional entre as 28 e as 32 semanas, aumentou de 60% para 90%. Além disso, o tempo necessário para a ingestão de alimentos exclusivamente por via oral encurtou de onze para sete dias e reduziu a duração da estadia hospitalar e o índice de infeções.

Os problemas para a mãe derivados do aleitamento foi outro dos temas tratados nestas jornadas. O médico Juan Miguel Rodríguez, da Universidade Complutense de Madrid, centrou a sua conferência na mastite e na recomendação de realizar colheitas ao leite materno e estudar a sua resistência aos antibióticos para determinar o tratamento adequado. A mastite é uma enfermidade que afeta cerca de 35% das mulheres que amamentam e é uma das principais causas para o abandono do aleitamento. A origem desta patologia são uns germes, na sua maioria estafilococos, que frequentemente não reagem à administração de antibióticos ou não o fazem de forma suficiente.

A exposição da médica Susanne Herber- Jonat, da Ludwig Maximilians University de Munique (Alemanha), foi abundante em novas formas de criação de bancos de leite materno onde este líquido não se resumisse aos habituais métodos de tratamento com o fim de conservar as valiosas células vivas. As dadoras sãs do banco de leite materno de Munique extraem o leite materno sob supervisão de uma assessora de aleitamento em condições estéreis. Posteriormente, o leite materno é submetido a um controlo, como o das doações de sangue, e é refrigerado sem ser submetido a tratamento térmico, para o seu uso posterior.

Melhorar a composição do leite materno para bebés prematuros é possível

A composição do leite materno e seus benefícios para os bebés prematuros foi outro dos temas tratados no simpósio. Dois especialistas na matéria, os professores Per Torp Sanglid, da Universidade de Copenhaga (Dinamarca), e Josef Neu, da Universidade da Flórida (Estados Unidos), analisaram as propriedades deste alimento para os bebés prematuros. Na sua apresentação, Per Torp Sanglid explicou que o leite materno, sem ser tratado ou esterilizado de forma respeitosa através do método UV-C, demonstrou ser superior ao leite pasteurizado no que respeita ao seu efeito sobre a saúde e a alimentação nas suas investigações com leitões.

Por seu lado, o professor Josef Neu esclareceu na sua exposição as diferentes composições do leite (materno, doado de bancos de leite e o leite de fórmula de fabrico industrial) e como estas diferenças se devem estudar para proporcionar o melhor alimento possível ao bebé prematuro. Assinalou como estudos recentes demonstraram que os microorganismos do leite materno provêm do trato gastrointestinal da mãe e que, portanto, com a aplicação de um tratamento específico ou uma dieta à mãe, é possível influir na composição destes microorganismos que chegam ao bebé.

Na sua intervenção, Thomas Khün (Berlim, Alemanha) explicou as dificuldades que os bebés prematuros muito pequenos têm para ingerir leite materno, se bem que apresentou a opção de facilitar este tipo de alimentação mediante sondas. Proporcionar ao bebé os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento é um desafio para os profissionais. Não é suficiente que os bebés prematuros ingiram a máxima quantidade possível de energia e proteínas, já que pode favorecer o excesso de peso e as infeções, assim como alterações metabólicas. Na sua exposição mostrou os resultados obtidos em distintos estudos franceses, onde se destaca que os bebés prematuros alimentados com leite materno não puderam satisfazer as expectativas de crescimento habituais durante a estadia no hospital, mas, entre os dois e cinco anos, já apresentavam um nível de desenvolvimento mais elevado do que as crianças que não foram amamentadas.